sexta-feira, 21 de junho de 2013

Jovens lideram manifestações e ganham projeção nacional

Conheça dez jovens que mobilizaram milhares de pessoas nos protestos em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre e Brasília

Embora não haja uma liderança centralizada nas manifestações que ocorrem em todo País, jovens, líderes por natureza, ganham projeção ao participar ativamente das negociações com governos e polícia. Protagonistas das convocações desses atos, eles se destacam ao usar as redes sociais para convencer as pessoas a ganharem as ruas.
Traço comum é a descrença na atuação política dentro dos partidos e nas instâncias de poder como meio para se garantir direitos. Esses jovens custam a se identificar com os atuais governantes, parlamentares, partidos políticos e organizações da sociedade civil nas esferas federal, estaduais e municipais.

São Paulo

Arquivo pessoal
Mayara Vivian

Conheça integrantes do MPL que atraiu milhares às ruas e milhões para a causa

Apesar do Movimento Passe Livre não ter hierarquia, alguns jovens se destacam nas manifestações na capital paulista. Saiba quem são eles

Criado em 2005, o Movimento Passe Livre (MPL) faz militância pela tarifa zero no transporte público e cresce a cada reajuste desde então. Não há hierarquia para garantir voz a todos que queiram discutir o tema, mas cerca de 40 pessoas organizam o grupo. O iG escolheu quatro para retratar as pessoas que estão à frente da organização que levou milhares às ruas e milhões para a causa.São eles:
Arquivo pessoal
Matheus Preis, estudante e negociador do MPL
Matheus Nordon Preis, de 19 anos, estudante de Ciências Sociais
Aos 19 anos, Matheus Preis é da segunda geração do MPL. Ele tinha apenas 11 anos quando o movimento nasceu no Fórum Social Mundial de Porto Alegre, em 2005. Começou a participar das manifestações quando integrava o grêmio estudantil do colégio onde estudava e pouco tempo depois foi aceito como integrante do coletivo que define os rumos do MPL.
Nas manifestações, ele é o responsável por informar à Polícia Militar os trajetos dos protestos. Munido de um rádio transmissor de curta distância e de um telefone celular, ele vai até o comando do policiamento momentos antes do início da saída da marcha, se comunica com os colegas que votam na hora qual trajeto será seguido e informa a decisão aos policiais.
Nem sempre o plano dá certo. Foi o que aconteceu no 6º ato contra o aumento das passagens, terça-feira (18). O rádio falhou, a rede de celular ficou congestionada e Matheus não conseguia se comunicar com o restante do grupo. Foram 20 minutos de apreensão por parte de Matheus e da PM, que o seguia por toda parte entre milhares de manifestantes na Praça da Sé.
iG acompanhou Matheus durante negociação com a Polícia Militar:
Quando o sistema de comunicação voltou a funcionar já era tarde demais. O protesto tinha se dividido em três grupos e se espalhado pela cidade. “Perdemos o controle”, admitiu ele às 18h10. Segundo interlocutores de Matheus na PM, ele impressiona pela calma e maturidade.
“É um excelente garoto. Sabe exatamente o que está fazendo. Não se desespera, é muito firme nas suas posições, mas nunca demonstra agressividade”, disse um oficial. A exemplo de outros representantes do MPL, Matheus evita falar sobre sua vida pessoal. “Já tive problemas por causa disso”, justificou.
Apesar da pouca idade, ele demonstra maturidade política e experiência em manifestações. No ato de terça-feira, ao saber que um grupo de radicais estava na frente da prefeitura, ele e Nina Capello traçaram uma estratégia: “limpar” a sede do executivo municipal fazendo uma espécie de “arrastão”.
Quando atravessava o Largo do Patriarca, Matheus puxou o grito “vem, vem pra rua vem” e seguiu rumo ao Teatro Municipal levando consigo grande parte dos manifestantes e esvaziando a aglomeração em frente à prefeitura. No caminho rumo à rua da Consolação, ele perguntava se a estratégia havia funcionado. Infelizmente um pequeno grupo permaneceu na prefeitura e protagonizou cenas de violência.
Arquivo pessoal
Mayara Vivian, estudante e 'líder' do grupo
Mayara Vivian, de 23 anos, estudante de Geografia e garçonete
O rosto mais visível e presente do MPL. Paulistana, Mayara é estudante do curso de geografia da Universidade de São Paulo (USP) e trabalha como garçonete em um bar na Vila Madalena, na zona oeste. A jovem evita falar de sua vida pessoal e rejeita categoricamente o cargo de líder do movimento, menção que ganhou da imprensa após seis protestos comandados pelo grupo em São Paulo. “Uma coisa é você ser referência, outra coisa é ser liderança”, disse em uma das coletivas que participou.
Embora os integrantes defendam que o MPL é um grupo horizontal - onde “todos têm poder igual de participação” - não é errado associar Mayara como integrante do ‘alto escalão’ do movimento. Presente nos principais desdobramentos dos atos, como reuniões com o secretário de Segurança Pública e o prefeito de São Paulo e coletivas de imprensa, a estudante é claramente respeitada pelos demais companheiros.
Durante a reunião extraordinária com o Conselho da Cidade, na última terça-feira, por exemplo, quatro jovens do grupo tiveram o período de 30 minutos para compartilhar os objetivos do grupo. O discurso de Mayara foi o único que arrancou aplausos e manifestações dos mais de 100 líderes sociais que acompanhavam o evento.
Líder nata, a jovem destacou-se pelo seu tom forte, agressivo e impaciência. A voz rouca, na ocasião já gasta em outros quatro levantes, não foi um problema. “A revogação é para agora, Haddad”, dizia. Em diversos momentos, ainda na reunião do conselho, a jovem foi repreendida pela socióloga da USP Marilena Chauí que a chamava de “mocinha autoritária”.
A crítica veio após inúmeras interrupções que Mayara provocou durante a fala de Haddad, que explicava os fatores que formavam a tarifa do transporte. “Haddad, o que isso tem a ver com o que queremos? Revoga ou não revoga?”, questionava em alto volume causando mal estar entre os presentes. O prefeito então pediu calma. “Mocinha, não! Mayara!”, rebateu a jovem. E ouviu de volta: “Escutar também faz parte da democracia”, encerrou Marilena.
Arquivo pessoal
Lucas Monteiro, responsável pelo material final de divulgação do Movimento Passe Livre, em SP
Lucas Monteiro de Oliveira,  de 29 anos, professor
Nos anos 1990, era um adolescente quando a esquerda brasileira protestava contra a Área de Livre Comércio das Américas (Alca) e começou ali sua militância. No ensino médio passou a atuar no Centro de Mídia Independente e quando o Movimento Passe Livre foi criado, em 2005, ele era um dos fundadores mais experientes, embora tivesse apenas 20 anos.
Agora, com 29 anos, dá aulas em um colégio particular no Paraíso e faz mestrado na Universidade de São Paulo (USP), mesmo local em que se graduou em História. Apesar da deliberação por não haver comando no movimento, é um dos principais responsáveis pelo material final de divulgação e redação de artigos com opiniões da organização.
Paulistano, diz que conheceu boa parte da cidade em protesto. “São Paulo tem muita coisa interessante, eu por exemplo gosto muito dos museus, mas a população é excluída da cultura da cidade. Essa é a nossa causa”, diz. “Hoje o que eu mais gosto em São Paulo é do povo que acabou de ganhar essa conquista.”
Divulgação
Nina Cappello, representante escolhida para a 1ª reunião com Haddad
Nina Capello Marcondes, de 23 anos, estudante de Direito
Foi a liderança escolhida pelo Passe Livre para encontrar o prefeito Fernando Haddad na primeira reunião. Também esteve ao lado de Lucas no programa Roda Viva, da TV Cultura, que foi ao ar ao vivo em plena segunda-feira, quando o movimento ganhou a simpatia da maior parte da população e levou mais de 60 mil pessoas para a rua sem sofrer repressão policial.
É estudante de Direito no Largo São Francisco, Faculdade da USP, no Centro Histórico de São Paulo e local que historicamente abriga manifestações do Passe Livre.

 


Em Brasília

Arquivo pessoal
Jimmy Carreiro

Jovem de 17 anos mobilizou mais de 10 mil pessoas

Aluno de escola pública, Jimmy reuniu participantes por meio das redes sociais e foi junto com a mãe, uma ex-cara-pintada, ao protesto que ocupou a laje do Congresso Nacional

A manifestação que tomou na noite da última segunda-feira toda a área externa do Congresso Nacional e o ato que ocupou as imediações do Estádio Mané Garrincha no fim de semana ocorreram em grande parte graças à mobilização de um jovem de apenas 17 anos. Estudante secundarista, Jimmy Carreiro Lima foi um dos principais líderes do protesto que chamou pelas redes sociais cerca de 10 mil pessoas que participaram da passeata e da concentração no Congresso.
Jimmy tem a fala calma, cabelos longos e está no segundo ano do ensino médio. Ele estuda no Centro de Ensino do Setor Leste, considerado a melhor escola pública do Distrito Federal. No ano que vem, pretende cursar Psicologia na Universidade de Brasília (UnB). Sua atividade política teve início no grêmio estudantil logo quando chegou à escola pública.
“Ele fez o ensino fundamental na escola particular, onde não tinha nada disso. Depois, eu o matriculei na escola pública onde ele passou a fazer parte do grêmio estudantil. Foi aí que eu identifiquei no meu filho uma grande liderança”, disse a mãe de Jimmy, Janaína de Morais Carreiro, que acompanhou o filho em todo protesto da última segunda-feira.
Antes do início da passeata que terminou no Congresso, sua grande preocupação era em ter certeza de que o protesto seria totalmente pacífico. “Se houver alguém com bandeira de partidos políticos, não vamos hostilizar. Vamos pedir para guardarem as bandeiras e continuarem na manifestação”, disse.

Flores
Jimmy conta que decidiu chamar o protesto pela internet depois de ver as imagens dos confrontos com a polícia nas primeiras manifestações em São Paulo. “Aquilo me deixou chocado”, afirmou o jovem. “Aqui em Brasília, cantamos o hino nacional de joelhos, oferecemos flores e, mesmo assim, os policiais jogaram bombas, gás de pimenta e atiraram com balas de borracha”, reclamou. “Eles (os partidos) podem participar, mas não nos representam”, disse. “A gente elege quem vai nos representar, mas quando essa pessoa que a gente elegeu chega ao poder, se esquece de ouvir o povo”, disse Jimmy. “O que queremos é demonstrar um protesto pacífico”, ressaltou.

A mãe de Jimmy tem 37 anos e disse ter levado um susto com a manifestação no sábado, bem na hora da abertura da Copa das Confederações. Mesmo assim, não deixou de apoiar o filho.
Separada do pai de Jimmy, precisou explicar o apoio. “Quando o pai dele viu o noticiário me ligou perguntando se eu sabia onde estava nosso filho. Disse que sim. Apavorado, ele disse que nosso filho poderia ficar cego, caso uma bala de borracha o atingisse no olho. Eu respondi que era um risco e que ele estava ciente disso. Não tenho como segurar um jovem de 17 anos com toda essa vontade dentro de casa”, disse Janaína, ao mesmo tempo, em que ajudava nas negociações com a polícia.
Janaína ajudou na organização de todo o protesto. “Eu sou da organização. Eu sou a mãe do Jimmy”, repetia, ao negociar com policiais de trânsito o percurso da manifestação. O policial respondeu: “Eu entendo a preocupação da senhora e quero lhe assegurar que nossa orientação é dar segurança. Por isso, queremos que os manifestantes ocupem só uma faixa da pista”, disse o policial.
“Não podia proibir meu filho de fazer isso. Seria contra tudo que acredito”, disse Janaína, que se orgulha de ter sido “cara-pintada” em 1992, na série de manifestações que pediam o impeachment do então presidente da República, Fernando Collor de Mello.

 





Porto Alegre

Arquivo pessoal
Nathalia Bittencurt

Lideranças são jovens, universitários e militantes experientes

Dois dos mais atuantes estudam na Federal do Rio Grande do Sul, conhecem detalhes da tarifação do transporte e têm outras bandeiras

“A gente aqui se vê como um espelho para o restante do País”, diz Nathália Bittencurt, uma das mais assíduas e engajadas manifestantes do Bloco de Luta pelo Transporte Público, como se chama o movimento pela redução da passagem em Porto Alegre. Presidente do Diretório Central dos Estudantes (DCE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), 22 anos, militante desde o ensino médio, ela é um exemplo do perfil dos jovens que puxam os protestos na capital gaúcha.
O Bloco não tem lideranças definidas, mas agrega outras entidades que têm, como é o caso do DCE. “A gente ajuda na mobilização, no material, vai nas escolas. O diretório tem bastante protagonismo nessa causa”, comenta Nathália. Ela mesma foi a todas as assembleias, exceto uma, quando esteve em São Paulo, na semana passada, apoiando a causa dos manifestantes paulistanos.

Estudante do Dom João Becker, colégio estadual tradicional, ela começou a militar quando era do grêmio contra a então governadora Yeda Crusius (PSDB). Agora faz o 4º semestre de jornalismo na UFRGS e é bolsista de iniciação científica. Solteira, gasta a maior parte do tempo livre com os colegas da universidade e militância. “Fora isso, eu diria passear no parque”, afirma.
Também entre os mais ativos está Lucas Maróstica, 22 anos, que cursa Ciências Sociais na mesma Federal do Rio Grande do Sul e, paralelamente, Jornalismo na PUC-RS e faz estágio na Câmara Municipal de Porto Alegre. Ele é líder do Coletivo Juntos, fundado em 2011, que tem o transporte público entre as principais causas. Homossexual, começou a militância dentro da PUC por democracia universitária, passou para os direitos gays e hoje também acompanha de perto questões ambientais.
Ambos não têm influência familiar política, mas recebem apoio em suas decisões. Ele começou a se engajar depois que deixou a casa dos pais em Guaporé e foi morar na capital. Nathália é órfã de mãe e o pai não se envolve. “Meu irmão também é universitário, mas não participa.”
Arquivo pessoal
Lucas Maróstica, 22 anos, estudante da UFRGS e da PUC-RS e líder do Coletivo Juntos
Os jovens acompanham com entusiasmo o momento de gigantismo das manifestações. “Existe muita coisa no Brasil que está errada e a gente fica indignado. Como aceitar que Renan e Sarney foram presidentes da república (em exercício) nos últimos dois anos e Marco Feliciano preside a Comissão de Direitos Humanos?”, questiona Lucas. Eles acham positivas as causas que atraíram para os protestos mais pessoas. “Acho ótimo que existam outras reivindicações. Dificilmente a gente consegue ganhar bastante pessoas para ir para as ruas e há outras questões que precisariam. As pessoas não estão trazendo temas contraditórios, quem quer que baixe a tarifa também é contra os gastos absurdos da Copa e o Feliciano”, diz Nathália.

 


Belo Horizonte

Arquivo pessoal
Jorge Afonso Mairink

Estudantes que se destacam nos protestos já são alvo de assédio

Apesar de resistirem à ideia de serem considerados líderes de um movimento, estudantes mineiros já recusaram convites de partidos para se filiarem

A resistência em apontar líderes dos protestos em Belo Horizonte é grande e está presente em todos os discursos feitos pelos jovens, na maioria sem filiação partidária, mas que comparecem ao viaduto Santa Teresa, no centro da capital mineira, para as assembleias populares que chegam a durar mais de cinco horas. No entanto, em meio aos discursos, os líderes acabam surgindo.
O estudante de Ciências Sociais da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de Minas Gerais Eduardo Gontijo é um dos participantes e rejeita o título de líder, apesar de já ter sido convidado para se filiar a um leque de partidos como PSDB, PT e PHS.
“Sou apenas um participante do movimento. Aqui, o líder é a assembleia popular. Somos líderes quando estamos discursando e somos ouvidos. Mas na última assembleia, tivemos a participação de 500 pessoas e 100 discursos”, ressalvou, apesar de admitir uma certa simpatia por partidos “de esquerda”. O estudante faz questão de pedir inclusive que sua foto não seja divulgada. “Divulgue a foto a assembleia. É melhor”, apelou.

Gontijo tem 20 anos, mora com os pais e não acredita nos partidos e nem no Estado, da forma como estão hoje estruturados. "Na teoria, o Estado é uma maravilha, mas na prática, é criminoso, na medida em que não respeita o cidadão. Temos um Estado que agride as pessoas e seus direitos que estão garantidos na Constituição Federal”, disse o estudante.
Da mesma forma funcionam os partidos, na opinião de Gontijo. “Os partidos são democráticos na teoria. Mas a gente sabe que estão sempre a serviço de uma cúpula, de caciques e a militância é sempre uma massa de manobra dessa cúpula”, destacou.
Esse “desapontamento” com a estrutura partidária, na avaliação de Gontijo, não é presente somente no pensamento dos mais jovens, que não experimentaram o período ditatorial.
“Tenho muitos amigos desapontados e também conheço muita gente ‘velha de guerra’ que também está desapontada com tudo isso”, diz. O motivo apontado por Gontijo para estar nas manifestações é a luta por direitos, da forma mais ampla possível. “A democracia está mudando o seu perfil. Acho que quem criou não esperava por isso. Hoje a luta é para garantir o direitos de ser diferente. Por isso não dá mais para aceitar o nazismo, o fascismo, a homofobia, por exemplo”, destacou.

Erro

Arquivo pessoal
Jorge Afonso Mairink é coordenador do DCE da UFMG
Já o estudante de Ciências Sociais da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Jorge Afonso Maia Mairink (21) pode ser considerado uma exceção quando a questão é a defesa do apartidarismo. Atuante na organização das passeatas, ele é coordenador do Diretório Central dos Estudantes (DCE), participa do movimento estudantil organizado e é filiado ao PT.
“Considero um erro sem tamanho que parte dos manifestantes não admita a organização por meio de partido ou instituições. Para mim, não há democracia sem partido. A última vez que acabaram com os partidos no Brasil foi na ditadura”, lembrou Jorge Afonso, referindo ao Ato Institucional Numero Dois, ou AI-2.
Além de extinguir partidos políticos, o AI-2 abriu processos de cassação de mandatos das pessoas que haviam sido eleitas, tornou indireta a eleição para Presidência da República e permitiu que o Poder Executivo interviesse no Poder Judiciário, fazendo com que os julgamentos das ações dos golpistas deixassem de ser competência da justiça civil.
“As pessoas filiadas aos partidos políticos estão sim participando das passeatas e sempre participarão. Além disso, não é só agora. Desde que cheguei aqui, há três anos, todo ano, em dezembro, quando os contratos de transporte público são reajustados, a gente foi pra rua protestar. Fizemos isso enquanto muitos estavam preocupados com outras coisas próprias do final do ano”, destacou Jorge Afonso, que é de Montes Claros, e mora em uma república em Belo Horizonte. Seu trabalho é como monitor na própria universidade, mas o dinheiro que recebe não é suficiente para seu sustento. Mesmo morando fora, ele ainda depende dos pais.

Para a passeata desta quinta-feira, os estudantes da UFMG decidiram agregar as reclamações do cotidiano da universidade. “Estamos sofrendo um ataque diário às nossas liberdades individuais. A reitoria proibiu festas, tem fotografado e filmado as pessoas sob ameaça de abrir contra elas processos administrativos, não tem admitido “aglomerações” e frequentemente permite a entra da Polícia Militar no Campus. Queremos reclamar disso”, contou Jorge Afonso, antes de entrar na assembleia que seria coordenada por ele com os estudantes.


Rio de Janeiro

Arquivo pessoal
Juliander Oliveira

 Envolvido na organização de protestos diz não acreditar em políticos

‘Não nos representa’ é a frase repetida pelo estudante Juliander Oliveira para expressar sua insatisfação

No Rio de Janeiro, o estudante de relações internacionais Juliander Oliveira, 20 anos, tem se destacado nas passeatas, mesmo diante da pulverização de pautas e reivindicações. A rejeição aos partidos é uma tônica do discurso de Juliander. “Não nos representa”, repete como mantra, tanto nas manifestações quanto nas conversas informais.
“Acho que dessa vez eles (os partidos) não nos representam. O povo foi às ruas por insatisfação em relação a todos os governantes e de diversos partidos”, argumenta. “O que me moveu a participar das manifestações foi a oportunidade de dar um basta em todas as besteiras que o governo tem feito com a população. Não foi o aumento das passagens que levou 250 mil para as ruas na segunda-feira. Foi a insatisfação com todas as medidas tomadas nos últimos 10 anos”, argumentou Juliander, morador da zona norte do Rio de Janeiro.
Juliander não se considera um líder do movimento. “Só estou ajudando a atualizar a página”, justifica o estudante que, em sua página nas redes sociais, se relaciona com mais de 750 pessoas.
Embora não haja um comando unificado das manifestações no Rio de Janeiro, característica que também se observa em muitas outras manifestações no país, em uma reunião na terça-feira, entre militantes de direitos humanos, alguns jovens que têm puxado os protestos nas redes sociais e até pessoas que atuam em partidos chegaram a um acordo para mudar o alvo dos protestos.
Em vez de protestarem contra o Poder Legislativo, como ocorreu na última segunda-feira, as manifestações no Rio nesta quinta-feira se voltaram para o Palácio da Guanabara, sede do
governo estadual, e a Prefeitura da capital.
“A decisão de focar no Executivo resultou de uma das primeiras reuniões de lideranças do movimento. O resultado disso já é uma postura firmada no diálogo com as instituições defensoras de direitos humanos, formada principalmente por pessoas filiadas aos partidos”, explicou Fransérgio Goulart, professor de história também engajado nas manifestações.

 

  fonte : IG - Luciana Lima iG Brasília

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