sábado, 22 de junho de 2013

Jovem vence concurso de miss e se torna ícone da comunidade etíope em Israel

Jovem vence concurso de miss e se torna ícone da comunidade etíope em Israel

Yityish Titi Aynaw, 21, deixou sua Etiópia natal há dez anos, ao se tornar órfã. É hoje uma das representantes mais conhecidas da comunidade de judeus de origem etíope, que não raro é alvo de preconceito em Israel. Tornou-se a primeira miss Israel negra e é chamada de "nova rainha de Sabá", referência à figura mítica da mulher do rei judeu Salomão que teria reinado onde é a atual Etiópia há 3.000 anos.

Há dez anos, eu vivia em uma pequena cidade na Etiópia e corria de pés descalços nas florestas, brincava na lama. Depois que meus pais morreram, vim para Israel com meu irmão mais velho. Vim ficar com meus avós, que nunca tinha visto.
Era um país estranho para mim, com uma nova língua, uma nova cultura. Estudei em um internato e tive de superar diversos obstáculos.
Soube desde cedo que eu era sozinha e que, se não tomasse conta de mim mesma, ninguém faria isso por mim.
Há três meses, minha vida mudou de uma maneira drástica. Frequentemente sinto que estou vivendo em um sonho que eu não ousava sonhar. Estou feliz e nem sempre consigo digerir as experiências que tive em um período de tempo tão curto.
Quando Shimon Peres, presidente de Israel, me apresentou a Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, disse que eu era a nova rainha de Sabá. Foi algo muito animador.
Aviv Phayon/Efe
Yityish Aynaw encontra Barack Obama e Shimon Peres (centro) em março, pouco depois de ser coroada Miss Israel
Yityish Aynaw encontra Barack Obama e Shimon Peres (centro) em março, pouco depois de ser coroada Miss Israel
AMIGA
Quando vim a Israel, comecei imediatamente a estudar no internato. Não conhecia a língua. Sentei ao lado de uma estudante israelense. Ela virou minha melhor amiga, e somos melhores amigas até hoje. Ela me recomendou o concurso de beleza, me ensinou a língua.
Eu era uma estudante teimosa. Se não entendia alguma coisa que a professora havia dito, não deixava ela continuar a ensinar até eu compreender a explicação.
Meus avós eram adultos e mesmo eles não sabiam a língua hebraica corretamente, então lutei todos os dias para aprender e entender.
No internato, não havia apenas etíopes. Havia crianças nascidas em Israel e também imigrantes da Rússia. Então eu não me sentia como uma minoria. Sempre fui parte de um ambiente misto.
A comunidade etíope é muito fechada. Estamos em Israel há 30 anos, não muito tempo. Viver em outro país não é fácil, em especial para pessoas mais velhas. É mais difícil para eles aceitarem a mudança, encontrarem trabalho, aprenderem a língua.
Acho que minha geração e a geração seguinte terão mais chances de se adaptar confortavelmente a Israel.
COR
Percebi que, nos últimos dois meses, depois da minha vitória no concurso, há uma cobertura mais positiva na mídia a respeito dos imigrantes etíopes --e espero que logo as pessoas possam ver através da cor da pele.
Minha melhor amiga, israelense, sempre me encorajou a ir para a competição. Eu achava que já estava na hora de Israel ter uma rainha da beleza vinda da Etiópia.
Realmente quero ser uma modelo e quero representar Israel. Acredito que a competição é a maneira mais correta de fazer ambas as coisas.
Depois da escola, estive no Exército. Fui uma instrutora da Polícia Militar. Instruía soldados. Servi durante três anos. Saí do serviço em setembro, e trabalhei como vendedora em uma loja de sapatos. Então ganhei o concurso e larguei o emprego.
Estou orgulhosa de representar a comunidade etíope em Israel. Cada um de nós, à sua própria maneira, contribui para a consciência, criando uma ponte entre o povo que vive em Israel.
MAR
Este é meu país. Eu me senti em casa imediatamente. Mesmo que não seja fácil, ainda assim essa é a minha casa. Amo o calor humano, as paisagens. Amo o mar.
Quando estava no internato, participava de corridas, era meu alívio. Corria na praia. Sempre vou à praia para pensar, para relaxar.
Viajei para a Etiópia em setembro passado, quando saí do Exército. Fiquei um mês lá. Usei minhas economias para construir a lápide do túmulo da minha mãe. Não é muito visitado, porque não há membros da família morando nas redondezas. Quis investir para preservar.
Visitei também minha família na Etiópia e fechei um círculo importante. Depois de tantos anos de dificuldades, me entreguei ao fato de que não tenho pais. Sabia que tinha de ir, tomar conta do túmulo da minha mãe e começar a viver minha vida.

FONTE: www1.folha.uol.com.br DIOGO BERCITO
DE JERUSALÉM

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